quarta-feira, 27 de julho de 2011

Esse texto é uma reflexão, simplesmente, que faço como educadora, mas também como mãe. Ao realizar uma releitura, fiquei com a nítida e amarga impressão que o conceito de família, nem sempre é esse, visto que trabalho diariamente com realidades distintas e até antagônicas. UTOPIA. Tenho que confessar que sou uma idealista e que meus sonhos de adolescente(todo adolescente é egocêntrico e sonhava em mudar o mundo, hoje não mais) ainda persistem, cada vez que surge um novo desafio em meu trabalho. O idealista, ao sonhar e refletir, acaba plantando sementes...
                      E você, o que pensa disso?



O contexto familiar

Vivemos, hoje, em um mundo globalizado, onde tudo se transforma constantemente. A sociedade,vem sendo  permeada por constantes modificações, em todos os âmbitos:histórico, cultural, econômico e social, . A família, por sua vez, em decorrência disso, sofreu nas últimas décadas, significativas transformações quanto a sua função, a sua composição  e também em seu formato.
A família, historicamente, contribui para a reprodução biológica e social de nossa sociedade,  pois  em seu meio  sempre se inicia a educação dos filhos por meio da aquisição de valores e crenças que farão com que esse sujeito realize a sua leitura de mundo, de acordo com o que aprendeu entre os seus,  assim permitindo a perpetuação das normas vigentes na sociedade.
A globalização permite que em frações de  segundos, o planeta todo esteja conectado às mesmas notícias, reduzindo  tempo e distância,  ao mesmo tempo em que exige  que tudo seja realizado com urgência, pois numa sociedade capitalista, é preciso qualificação para poder sobreviver à concorrência  diária.  A ciência evoluiu e  trouxe um aumento significativo na expectativa de vida, o imediatismo  ditado pela mídia trouxe a busca pelo prazer imediato, o tempo dedicado às questões profissionais vem sendo cada vez maior e desse modo, percebe-se um novo redesenhar dos contornos familiares.
Nessa perspectiva, a partir da segunda  metade do século xx,  a família nuclear, composta por pai, mãe e filhos, hierárquica e centrada no poder do pai, começou a  sofrer transformações significativas e” já não é mais a realidade predominante no Brasil,” de acordo com a antropóloga Mirian Grossi.
 A alteração do  papel da mulher, na configuração familiar, foi determinante para que essas mudanças acontecessem. A mulher,  era a “rainha do lar”,  com sua existência dedicada exclusivamente a ser a mãe dedicada, extremosa, e a cuidar com zelo da casa, providenciando para que nada faltasse aos filhos ou ao marido, a quem devia obediência cega. Ser mulher, até aproximadamente o final dos anos 1960, significava identificar-se com a maternidade e a esfera privada do lar, sonhar com um “bom partido” para um casamento indissolúvel e afeiçoar-se a atividades leves e delicadas, que exigissem pouco esforço físico e mental (RAGO, 2004, p. 31).
  A partir de 1962, com o lançamento do Estatuto da mulher casada e com a  chamada "revolução sexual" dos anos sessenta, juntamente com o aparecimento da pílula anticoncepcional,houve a inserção gradativa da mulher no mercado de trabalho. Essas mudanças foram recebidas  com apreensão, na época, pois poderiam prenunciar o fim da família, dos costumes e da moral.
Nesse sentido, a mulher deixou de ser dependente economicamente do marido e, em conseqüência disso, mudanças sociais , econômicas e culturais ocorreram,  diminuindo a  taxa de natalidade, aumentando o número de separações e de famílias lideradas por mulheres.
A medida que tantas mudanças iam ocorrendo, o contexto social,histórico, também vai sofrendo alterações.  Desse modo, os adultos separados vão encontrando novos pares e assim começam a surgir novos arranjos familiares, tais como famílias alternativas, famílias mono parentais, famílias gays, famílias mosaicos,  com pais, madrastas, mães, padrastos e irmãos  consangüíneos ou não, muitas vezes, filhos de relações diferentes,  todos coabitando o mesmo espaço.
Assim, todas essas transformações aliadas à tecnologia da medicina, das novidades da estética e  a moda defendida  pela mídia, colocam a juventude no topo dos desejos. Ser jovem  é ter o poder numa sociedade em que as notícias da semana passada são obsoletas. Essa geração de pais, portanto, não querendo amadurecer, busca contrariar a educação rígida a que foi submetida , resultando em adultos desnorteados, sem exercer sua função de impor limites a seus filhos.
Nesse sentido, atualmente, a maioria das famílias vive num mesmo espaço, porém convive  pouco,  pois os pais estão trabalhando cada vez mais , visto que a sociedade de consumo exige jornadas intermináveis, enquanto a rotina dos filhos segue quase o mesmo ritmo, em função do preparo exigido para a concorrência futura, no mercado de trabalho. Esse estilo de vida vem resultando em filhos que em vez de amor, recebem recompensas materiais  e  acabam dando mais valor ao aspecto material que ao  interior  das pessoas.  Isso acaba contribuindo para o aumento crescente de crianças e jovens que exigem que os pais só realizem aquilo que for consentido por eles, pois os pais têm medo de não conquistar o amor dos filhos, em serem rejeitados por estes.  O abandono e a conseqüente falta de educação, de limites do que é certo ou errado , acontecem quando os adultos  responsáveis  “não bancam a sua diferença diante dos filhos”, não agindo como “o adulto da relação”.
Nessa perspectiva, esses aspectos  que acabaram por alterar a concepção de família,  também modificaram as relações institucionais da educação formal e exigiram novos olhares e a busca de novos paradigmas na escola.  Hoje, o professor não é mais visto com o mesmo prestígio de outrora, pois o aluno vem para a escola com outra perspectiva ,  gerada  pela  vivência familiar e social.
Segundo Melman (2008), a partir disso, os consultórios estão abarrotados pois “muitos jovens buscam a psicanálise, hoje, para descobrirem o que realmente desejam, nossos filhos estão  sendo criados em condições que promovem a busca rápida pelo prazer máximo e sem obrigações.”
Desse modo, os limites estabelecidos pela escola, geralmente são motivos de conflitos entre alunos, educadores e pais, quando esta mesma escola,  procura exercer o papel  que deveria ser destes. Contudo, não se pode dizer que isso acontece em função das ditas modificações estruturais nos moldes da família, mas por essa geração de pais que não conseguem assumir os encargos pertinentes  à paternidade
A mudança dos costumes, da moral e da visão do sexo associada à vertiginosa evolução tecnológica e científica, modificou  enormemente as representações sociais da família. Sexo, casamento e reprodução, bases da organização  da família, se desatrelaram definitivamente. Não é mais necessário sexo para haver reprodução, e o casamento há muito tempo não é mais o legitimador da sexualidade. Sexo pode ser só pelo prazer, ainda que algumas religiões não admitam e continuem com um discurso hipócrita e na contramão da história.
          Assim, a família deixou de ser, essencialmente, um núcleo econômico e de reprodução. Hoje, ela está muito mais para um espaço do amor, do companheirismo, da solidariedade e do afeto. Um local destinado para a construção do sujeito e de sua dignidade.  A  família foi, é e continuará sendo o núcleo básico de qualquer sociedade. Por mais que se tenha diferentes formas de constituição das famílias, por mais que estejam presentes os interesses de mercado, da sociedade midiática e por mais variadas que sejam as formas de manifestação da sexualidade, em sua essência está um espaço propício para formar sujeitos através da troca constante de amor e afetos, pois essa é uma busca contínua e inerente ao ser humano.